Dois diretores cultuados e que possuem em comum o padrão estético responsável por atrair grandes nomes do meio hollywoodiano. Atores e atrizes que vivem de altos sálarios dispostos a um papel em seus filmes, sem pestanejar. Os diretores em questão são: Terrence Mallick de "Árvore da Vida" e Woody Allen de "Meia-noite em Paris". Vamos nos ater apenas a estes dois filmes, pois os dois possuem uma forma peculiar de filmar: Terrence demora às vezes uma década para concluir um trabalho e Woody faz um filme por ano. Os dois são polêmicos (Terrence não se deixa fotografar e não dá entrevistas, nunca. Woody trocou a mulher pela enteada, décadas mais nova).
Em "Árvore da vida" duas horas e vinte minutos de filme confrontam um pai rigoroso (Brad Pitt, ótimo), a esposa ( a grata surpresa Jessica Chastain), possuidora de todos os valores que equilibram a difícil relação de amor e ódio entre pai e filhos e um Sean Penn em aparicões ocasionais e mínimas como o filho que cresceu. O Sr. Mallick questiona a existência de Deus, coloca meia hora de cenas que são uma alusão à criação do universo (que parecem ter saído do Discovery Channel), com direito a dinossauro e tudo. O filme é cansativo e não aproveita os seus melhores momentos, aquele em que o pai autoritário e a mãe doce e equilibrada, confrontam o luto por um dos filhos que morreu e cenas em flashback, explicando a dificuldade no relacionamento das típicas famílias americanas que perderam seus filhos em guerras como o Vietnam.
A sala de cinema vai esvaziando aos poucos, as pessoas desistem, pois cinema ainda é entretenimento. Há de se pensar,debater, mas fica a impressão de um filme feito sob medida para os críticos, como o do jornal "O Globo" que o aplaudiu de pé!
Chega então Woody Allen com um filme que é uma Declaração de Amor a Paris. Lindo e com uma pegada que remete à "Rosa púrpura do Cairo". Desta vez um autor em crise, mergulha em uma Paris inacreditável. Viajando com a noiva e os sogros, acaba saindo à noite e bêbado entra em um carro que passa e o convida a um inocente passeio. Começa então uma viagem para a "era de ouro" e a "Belle Époque" com as figuras de Scott Fitzgerald, T.S. Elliot, Gertrudes Stein, Picasso, Buñuel, Salvador Dali, Hemingway, Cole Porter, Matisse... enfim, a cada noite ele chega ao mesmo local e a mesma hora, onde o carro passa e faz o transporte para um passado sedutor, fascinante, em contraste com o presente que a cada minuto ele prefere esquecer.
O elenco está perfeito, a começar por Owen Wilson como o alter ego do diretor, passando por Marion Cotillard e Kathy Bates. A direção de arte e os figurinos impressionam.
O fato é: A simplicidade da narrativa de "Meia-noite em Paris" tem vigor, emociona, nos faz pensar e discute a máxima de sempre acharmos melhor a época já vivida e nunca a atual, como se pudéssemos voltar no tempo e ter uma segunda chance, além de usar um recurso mais do que vencedor no duelo entre os dois filmes: um roteiro surpreendente que só questiona nossa vontade de viver cada momento intensamente e com direito a um acerto de contas com nossas insatisfações e imperfeições. A propósito, alguém já caminhou por Paris abraçado, apaixonado e sob uma chuva com sabor de uma saudade do que ainda não viveu? Pois é... isso é cinema!!
Jorge Ricardo
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