sábado, 17 de dezembro de 2011

ENFERMEIRA TE VEREI NO INFERNO!

Não tenho muita noção do que me aconteceu, só sei que sou Yorkshire, uma raça de cão menor pois ouvia muito falar. Minha dona trabalha muito, vive estressada e me bate muito, não entendo pois toda a vez que ouço seus passos chegando minha felicidade é tamanha que pulo,chamo por ela, corro, até cansar.


Existem coisas sendo esquecidas, pois sinto muita dor ainda. Não sei aonde estou, apenas me lembro dela chegando em casa linda de branco e depois repentinamente seus olhos cheios de ódio e suas mãos me batendo com algo pesado. O que foi que eu fiz? Deve ter sido algo muito grave, pois quando escuto a TV fala-se muito em justiça, mulheres espancadas, crianças e de outros animais sofrendo do mesmo mal.

Existe alguém que nos proteja?
Tenho muitas coisas para perguntar, estou curioso e ouvia muito a palavra justiça, bem não sei mesmo do que se trata, só entendo muito de amor e agora sei o que é o ódio, já que confere exatamente com o meu caso e o de meus irmãos de várias raças. Saudade eu conheço bem, pela minha mãe sempre zelosa e amorosa e meu pai nos protegendo sempre até sermos separados.


Ainda sinto o cheiro do leite, alimento dos meus primeiros dias, o toque macio e quente da proteção em que vivia ao lado dela. Será que minha dona quando nasceu não foi acariciada e mimada como eu? Antes eu já apanhava um pouco e agora fico pensando: teria sido intencional, como aquele filhote enterrado vivo ou tantos atropelados diariamente sem que o motorista sequer olhe para trás, enquanto a dor dilacera seus corpos? Bem... agora de dor eu também entendo e observo...

Observo daqui cada gesto, sorriso, beijo, cada olhar assustador desta mulher cruel e me preocupo com minha amiguinha de 3 aninhos. Ela estava perto quando tudo aconteceu, lembro seu grito e choro e não sei o que fazer para protegê-la, pois ainda não consegui achar a saída para ir escondido ao seu encontro. Como as dores são muito fortes e eu não tive tempo para fugir, estou sem forças e com um pavor novo: será que vou ficar aqui para sempre? Sendo assim ninguém vai lembrar mais de mim e quem vai vir me buscar?



Minha cabeça ferve de dor e perguntas, mas não encontro as respostas. Nasci para alegrar meu lar, meus donos, ser feliz, encontrar uma companheira, ter meus filhos e agora só sinto muito medo.

Ouvindo uma coisa muito bonita pelo rádio que ficava ligado às vezes na cozinha, prestei bastante atenção e ouvi nitidamente que nada nesta vida é em vão, existe um propósito para todas as coisas.Achei a palavra linda e tive a impressão, talvez intuição que cedo ou tarde ele se mostrará límpido, como aqueles dias de sol lindos em que eu conseguia enxergar o azul do céu e sentir no cantinho da varanda aquele calor gostoso por todo o meu corpo.




Um dia como esse, lindo... eu não verei nunca mais. Então que a justiça seja feita! Obrigado por me ouvirem, não guardo rancor ou ódio, sentimentos desconhecidos, pois devem fazer muito mal e isso eu não desejo para ninguém. Então acho que eu vou dormir um pouquinho, pois estou tão cansado...
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
                                                             AMÉM.

                                                                       Jorge Ricardo.

Um comentário:

  1. Corajoso desabafo diante de atitudes tão revoltantes da própria dona.

    Sensível. Comovente!

    Justiça e amor para Jorge Ricardo!

    Vania

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