As áreas "Sobre você", "Citações favoritas", "Preferências políticas" e
"Interesses" podem dizer muito sobre um candidato e seu futuro em uma
determinada empresa. Segundo um estudo realizado pela Universidade Northern
Illinois, nos Estados Unidos, características pessoais como extroversão,
socialização, consciência, estabilidade emocional e franqueza podem ser
identificadas com facilidade a partir de uma análise feita no perfil de um
usuário no Facebook.
Pesquisadores americanos chegaram à conclusão com base em uma experiência.
Eles avaliaram o perfil de 56 estudantes universitários empregados (fotos,
mural, comentários, educação e hobbies) e, em seguida, responderam a um teste
com perguntas como "esta pessoa é dependente?" e "o quão emocionalmente estável
é este voluntário?".
Seis meses depois de analisar os perfis, os cientistas entraram em contato
com os supervisores desses estudantes. Eles descobriram, então, uma forte
relação entre o desempenho no trabalho desses profissionais e a avaliação de
suas páginas no Facebook, especialmente nos quesitos curiosidade intelectual,
consciência e franqueza.
De acordo com os pesquisadores, os estudantes que mais viajavam, possuíam
mais amigos e mostraram na rede seus interesse foram melhor avaliados na
primeira fase e, consequentemente, considerados melhores funcionários pelos seus
supervisores. Segundo Don Kluemper, que conduziu o estudo, fotos descontraídas,
como as tiradas em festas, não atrapalharam a análise dos especialistas; ao
contrário, esse material mostrou ao corpo de cientistas o quanto os voluntários
eram amigáveis e extrovertidos.
Para Kluemper, o levantamento mostrou o potencial da ferramenta nos processos
de seleção. "É difícil para as pessoas esconder a personalidade diante dos
amigos", diz o professor.
Usar o Facebook no recrutamento de candidatos ainda é pouco utilizado no
Brasil. De acordo com Iracema Dias de Araújo Andrade, diretora da Viva Talentos,
empresa especializada em seleção, a análise comportamental com base no site é
pouco usada, embora a plataforma possa ajudar a identificar problemas pontuais
de personalidade. "Certa vez, um rapaz adotou um comportamento inadequado
durante uma dinâmica de grupo. Pesquisamos o seu perfil no Facebook e percebemos
associações com comunidades relacionadas a drogas", conta.
É claro que essas pesquisas não são descartadas, principalmente quando a vaga em
questão exige determinados interesses. "Para algumas posições, onde é preciso
encontrar uma pessoa alinhada a determinado perfil, é interessante usar o
Facebook como um complemento. O problema é que muitos candidatos potenciais não
oferecem acesso às suas páginas ou não incluem dados que demonstrem seus
interesses pessoais na rede", diz a executiva.
As expectativas de Andrade para o futuro são positivas em relação ao uso da
rede nos processos de seleção, embora sua participação no recrutamento de
talentos ainda seja tímida no país.
"É preciso ter muito cuidado na hora de se levar em conta um perfil. As
pessoas são diferentes em ambos ambientes - offline e on-line - e o profissional
precisa estar apto a identificar e a avaliar essas nuances", afirma. "A
utilização da plataforma requer treinamento, mas acho que no futuro devem surgir
especialistas capazes de fazer essa análise comportamental", completa a
executiva.
Por Rosana Cidade
Fonte: Revista Exame
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