COMPROVADO
CIENTIFICAMENTE, o cientista Philip Low afirma: "Todos os mamíferos e
pássaros têm consciência"
O que pode mudar
com o impacto dessa descoberta? Os dados são perturbadores, mas
muito importantes. No longo prazo, a sociedade dependerá menos dos animais.
Será melhor para todos. O mundo gasta 20 bilhões de dólares por ano matando 100
milhões de vertebrados em pesquisas médicas. A probabilidade de um remédio
advindo desses estudos ser testado em humanos (apenas teste, pode ser que nem
funcione) é de 6%. É uma péssima contabilidade. Um primeiro passo é desenvolver
abordagens não invasivas. O cientista autor da descoberta não acha ser
necessário tirar vidas para estudar a vida. Precisamos apelar para nossa
própria engenhosidade e desenvolver melhores tecnologias para respeitar a vida
dos animais. Temos que colocar a tecnologia em uma posição em que ela serve
nossos ideais, em vez de competir com eles.
Estruturas do cérebro responsáveis pela produção da
consciência são análogas em humanos e outros animais, dizem neurocientistas.
O neurocientista canadense Philip Low ganhou
destaque no noticiário científico depois de apresentar um projeto em parceria com
o físico Stephen Hawking, de 70 anos. Low quer ajudar Hawking,
que está completamente paralisado há 40 anos por causa de uma doença
degenerativa, a se comunicar com a mente. Os resultados da pesquisa foram
revelados em uma conferência em Cambridge. Contudo, o
principal objetivo do encontro era outro. Nele, neurocientistas de todo o
mundo assinaram um manifesto afirmando
que todos os mamíferos, aves e outras criaturas, incluindo polvos, têm
consciência. Stephen Hawking estava presente no jantar de assinatura do
manifesto como convidado de honra.
Low é pesquisador da Universidade Stanford e do MIT
(Massachusetts Institute of Technology), ambos nos Estados Unidos. Ele e mais
25 pesquisadores entendem que as estruturas cerebrais que produzem a
consciência em humanos também existem nos animais. "As áreas do cérebro
que nos distinguem de outros animais não são as que produzem a
consciência", diz Low, que concedeu a seguinte entrevista ao site de VEJA.
Foi descoberto que as estruturas que nos distinguem
de outros animais, como o córtex cerebral, não são responsáveis pela
manifestação da consciência. Resumidamente, se o restante do cérebro é
responsável pela consciência e essas estruturas são semelhantes entre seres
humanos e outros animais, como mamíferos e pássaros, concluíram que esses
animais também possuem consciência.
Sabe-se que todos os
mamíferos, todos os pássaros e muitas outras criaturas, como o polvo, possuem
as estruturas nervosas que produzem a consciência. Isso quer dizer que esses
animais sofrem. É uma verdade inconveniente: sempre foi fácil afirmar que
animais não têm consciência. Agora, temos um grupo de neurocientistas respeitados
que estudam o fenômeno da consciência, o comportamento dos animais, a rede
neural, a anatomia e a genética do cérebro. Não é mais possível dizer que não
sabíamos.
A habilidade de
sentir dor e prazer em mamíferos e seres humanos é muito semelhante.
Quando um cachorro está com medo, sentindo dor, ou
feliz em ver seu dono, são ativadas em seu cérebro estruturas semelhantes às
que são ativadas em humanos quando demonstramos medo, dor e prazer. Um
comportamento muito importante é o autorreconhecimento no espelho. Dentre os
animais que conseguem fazer isso, além dos seres humanos, estão os golfinhos,
chimpanzés, bonobos, cães e uma espécie de pássaro chamada pica-pica.
Considerando que um polvo, que tem 500 milhões de
neurônios (os humanos tem 100 bilhões), consegue produzir consciência, estamos
muito mais próximos de produzir uma consciência sintética do que pensávamos.É
muito mais fácil produzir um modelo com 500 milhões de neurônios do que 100
bilhões. Ou seja, fazer esses modelos sintéticos poderá ser mais fácil agora.
Caberá à sociedade discutir
sobre o que está acontecendo e exigir novas leis que possam proteger melhor os
animais, respeitando-os em sua dor ou prazer que agora não é mais objeto de
dúvida, pois é impossível não se sensibilizar com essa nova percepção sobre os
animais, em especial sobre sua experiência do sofrimento.
por Ivana Moreira
fonte: Veja
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